Comemorado neste domingo (10), o Dia dos Pais é uma data para reviver histórias de empresários e trabalhadores que levam seus filhos para dentro da profissão e revelam como o ofício pode ser também uma ferramenta de formação de caráter. Seja no chão de oficinas mecânicas, balcões de atendimento das lojas, nas atividades rurais ou mesmo nas salas de aula, muitos pais usam a vivência profissional para transmitir valores como disciplina, criatividade, resiliência, amor pelo que faz e orgulho pelas próprias raízes.
O trabalho exercido pelo pai não molda apenas expectativas de futuro, mas também serve como espelho emocional. Na visão de especialistas, mesmo sem perceber, a criança observa como o genitor lida com frustrações, horários, sucesso e cansaço. Isso forma uma base para seu próprio modo de se relacionar com o mundo.
No bairro Chácara dos Pinheiros, em Cuiabá, o mecânico João Roberto de Oliveira viu os filhos Regiane e Roberto seguirem seus passos na profissão depois de anos acompanhando os reparos de motores e conversas com os clientes. Ensinei desde pequenos que o trabalho dignifica. Eles aprenderam na prática, com graxa na mão e olho atento. Saber que eles seguiram carreira de mecânico por opção própria é algo que me enche de orgulho porque tudo o que conquistamos foi graças a esse trabalho, que também herdei do meu pai, conta João Roberto, proprietário da Oficina Jarrão.
Foi um início precoce, desde os 8 anos, quando comecei auxiliando-o na lavagem de peças. Aprendemos a desmontar motores e fazemos de tudo um pouco na empresa. Ou seja, é uma relação de harmonia e extrema confiança entre nós, diz Regiane.
Casos como o dele se repetem em diferentes áreas do setor de serviços, especialmente em profissões onde o saber é transmitido de forma artesanal ou direta, como carpintaria, costura, culinária e artesanato.
Já no setor comercial, o exemplo mais emblemático é a trajetória de Geraldo Prado e Geraldo José, pai e filho que comandam a Casa Prado -loja de confecções com mais de 70 anos de história e que também está na terceira geração. Geraldo José, que atualmente é o CEO da marca, conta que o exemplo de liderança e apreço pelo trabalho foram os principais fatores que norteiam a sua caminhada no empreendedorismo.
Além da reputação e credibilidade, o que fica para mim e para a Priscila (irmã e diretora do conselho de administração da empresa) são valores como a resiliência, mesmo nos momentos não tão bons, e a qualidade do atendimento para com todos os clientes, sempre com dedicação e respeito. São ensinamentos que aprendi desde cedo e que busco transmitir para o meu filho da mesma maneira. Mesmo com apenas 6 anos, ele já conhece as nossas unidades na capital e no interior para, quem sabe, nos levar à quarta geração do negócio.
No caso do suinocultor Itamar Canossa, o trabalho na pecuária é uma tradição que remonta à imigração da sua família oriunda da Itália, há pelo menos seis gerações. Na visão dele, a persistência para seguir no ramo, mesmo em meio aos desafios de ordens climáticas, políticas e econômicas, é um valor fundamental que moldou o seu caráter e que está presente na formação das filhas – de 23 e 18 anos de idade.
Os momentos de crise são grandes oportunidades para o desenvolvimento pessoal e profissional, desde que haja a leitura correta de todo o contexto. A criação de suínos é um negócio, mas também é uma cultura de família. Espero que as filhas deem continuidade a essa história. A mais velha já se formou em medicina veterinária. Talvez seja um indicativo, brinca.
Planejamento é fundamental
Grande parte dos exemplos acima apontam que a inspiração na transmissão de valores vai muito além da montagem do caráter, podendo influenciar a escolha da sequência da jornada profissional. Levantamento realizado pelo LinkedIn aponta que cerca de 25% das pessoas traçaram suas carreiras com base nas recomendações de seus genitores – sendo que, na maioria das vezes, a opção foi por seguir no mesmo ofício. No caso das empresas, o cenário reforça a importância de um tema delicado, mas necessário para o funcionamento delas: a sucessão familiar.
O analista técnico do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso (Sebrae/MT), Fábio Apolinário, destaca que 9 em cada 10 empresas no país são de perfil familiar. No entanto, longevidade é o grande empecilho, já que apenas 30% delas sobrevivem até a terceira geração. Na visão do especialista, promover um processo de transição gradual de gestão entre pais e filhos é fundamental para evitar litígios e garantir perenidade.
Cada troca de comando traz um desafio relacionado ao momento atual. A criação da empresa requer uma tomada de decisão arrojada, que envolve altos riscos de investimentos. Em seguida, a consolidação da empresa é o grande desafio. A partir da terceira fase, o cenário fica um pouco mais complexo porque o herdeiro, em muitos casos, já não vive o cotidiano da empresa com a intensidade e o conhecimento do antecessor. Normalmente, as empresas familiares que chegam a esse estágio delegam a operação para uma equipe profissional, enquanto os responsáveis respondem por questões consultivas.
Leia mais sobre o Dia dos Pais na edição de A Gazeta
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