Atualmente, Mato Grosso possui cerca de 1061 pessoas desaparecidas que tiveram seu sumiço registrado juntamente à Polícia Civil. Em contrapartida, outros 4098, foram localizados e voltaram para suas casa. Através do Banco de Dados, é possível constatar por diversas vítimas que ainda seguem desaparecidas. Uma delas é Maria Aparecida da Silva, de 86 anos, que desapareceu 1963, vista pela última vez na cidade de Pedra Preta. Até hoje, familiares não tiveram respostas de seu paradeiro.
O dia 30 de agosto, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, data que põe luz a uma situação em que familiares precisam aprender a conviver, que é a angústia por não saber notícias sobre um parente próximo.
Por isso, desde janeiro de 2025, o projeto ‘Lembre de Mim’, formado por profissionais da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), criaram um projeto para conseguir identificar cadáveres que não foram possíveis de ser identificados, e assim, dar respostas às famílias.
Com cerca de 8 meses de projeto, já foram analisados 121 casos, com 46 vítimas identificadas. Dentre as vítimas, apenas 21 famílias foram encontradas em cerca de 11 dias.
Os dados do projeto dão conta de que, entre as vítimas, 93,5% eram do sexo masculino, 84,8% eram negras e 19,6% tinham entre 45 a 49 anos, sendo em sua maioria solteiros. Ainda de acordo com dados disponibilizados, 14 eram vítimas de homicídio, 11 de morte a esclarecer e 8 de acidente de trânsito. Fazem parte da lista vitimas de morte natural, afogamento, entre outros.
Chico Ferreira
Ao , a papiloscopista e coordenadora do projeto, Simone Delgado, conta que a data pede muita reflexão, uma vez que o desaparecimento afeta milhares de famílias que ainda procuram por seus entes queridos.
“O Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados é uma data que pede reflexão e união de toda sociedade em prol da causa de pessoas desaparecidas, que causa muita dor em milhares de famílias, e dentro disso, nós temos pessoas falecidas não identificadas, onde nós buscamos dar uma dignidade à vítima e uma resposta às famílias que convivem com essa dor do desaparecimento”, relata.
Ainda segundo dados do projeto, cerca de 82,6% das pessoas identificadas possuíam um registro oficial de desaparecimento, o que reforça a necessidade de realizar um registro civil, informando que o familiar não está mais dando notícias.
“Pela minha experiência de mais de 24 anos, trabalhando na identificação humana, eu estimo que cerca de existam 400 casos não identificados nos últimos 20 anos. Por isso, nós sempre enfatizamos que não há prazo para registrar o boletim de ocorrência do desaparecimento. A recomendação é que o registro seja feito assim que o familiar, perceba que a pessoa desapareceu. Esse registro pode ser feito tanto pelo site da Polícia Civil ou pessoalmente”, explica.
Além do perfil já traçado pelos dados disponibilizados pela Politec, Simone conta que é apenas após contactar a família, que eles descobrem a real situação em que estava a vítima.
“Após a identificação, em conversas com a família que a gente percebe que a maioria das vítimas estava em uma situação de vulnerabilidade, em situação de rua, ou até mesmo idosos que morrem de morte natural e não possuíam contato com a família. Alguns inclusive possuíam documentos falsos, pois estavam sendo procurados pela justiça, com mandado de prisão em aberto, o que pode ter dificultado a sua identificação”, conta.
Durante os 46 casos de pessoas identificadas, a papiloscopista já ouviu diversas histórias, de cerca de 300 familiares impactados com o sumiço e posterior identificação do corpo das vítimas. Mas ela conta, o ‘Lembre de Mim’, atua como o encerramento de uma dor, de uma angústia e por vezes, da morte, da esperança, de encontrar ainda vivo, um familiar.
“Um caso que me marcou foi o de um jovem desaparecido, e assim, para muito além de identificar, o objetivo do projeto também é localizar essas famílias e comunicá-las de uma forma eh de forma humana. E quando a gente fez a ligação para a mãe desse rapaz, ela me falou que até receber a minha ligação, ainda tinha esperança de encontrar o filho dela com vida.
Então, assim, é um sentimento amargo, em que, de um lado, existe o sentimento de tristeza, de tirar a esperança de uma mãe, mas de outro, o sentimento de certa forma que é muito gratificante, de poder encerrar esse ciclo de dor, para que essa pessoa seja enterrada com dignidade, para que essa família vivencie esse momento de luto e possa recomeçar a vida, sabendo o que de fato aconteceu com seu ente”, finaliza.
Os boletins de desaparecimento podem ser realizados através do site da Polícia Civil.
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