Direita tem outros nomes além de Bolsonaro, mas esquerda só tem Lula, avalia analista

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Arte: Rodinei Crescêncio/Rdnews

Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), a direita ainda tem outros nomes fortes para disputar e possivelmente vencer as eleições presidenciais de 2026 no Brasil, diferente do que aconteceu com a esquerda em 2018, quando o nome de Fernando Haddad (PT) não agradou ao campo progressista. Essa é a análise feita pela cientista política Christiany Fonseca. Para ela, o único nome forte da esquerda, hoje, é o de Lula (PT), que vem demonstrando um certo esgotamento. Em visita à sede do , a cientista política também falou sobre o cenário das eleições para o Governo de Mato Grosso e Senado.

Confira, abaixo , os principais trechos da entrevista

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Com tudo isso que está acontecendo – a questão do tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por conta das decisões do Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a prisão domiciliar dele e uma possível prisão definitiva com a condenação – como você vê a inflamação do discurso bolsonarista nesse momento no Brasil?

Eu vejo que o discurso bolsonarista ainda é muito forte aqui no Brasil. Acho que esse momento da prisão domiciliar do Jair Bolsonaro inflamou muito mais a militância. A gente percebe, inclusive, toda a articulação que se teve no Congresso depois da prisão domiciliar dele, do comunicado disso. O bolsonarismo ainda permanece vivo. E sempre gosto de destacar que, quando se fala do bolsonarismo, não está necessariamente falando da direita. Hoje, aqui no Brasil, a gente precisa considerar que a direita é uma coisa e que o bolsonarismo se transformou em outra coisa. Flerta com a direita? Sim, mas necessariamente não é essa direita orgânica que nós tínhamos no Brasil há alguns anos atrás.

Kethlyn Moraes/Rdnews

O Bolsonaro é uma pessoa que transfere votos?

Sim. Inclusive em Mato Grosso, figuras extremamente desconhecidas passaram a ter mandatos importantes, por exemplo, no Parlamento Federal, pela capilaridade do bolsonarismo. Eu acho que o bolsonarismo ainda está inflamado no Brasil, acho que o candidato do Bolsonaro terá uma votação importante também. Mas aí fica uma grande incógnita. O Bolsonaro não sendo candidato – e eu acho que tudo caminha para issoo, ele já está inelegível e acho que a tendência, inclusive, é de vir uma condenação – fica muito mais limitado, inclusive, a forma dele se posicionar nas campanhas. Ou seja, a gente vai ter um Bolsonaro, por exemplo, que não vai poder usar as redes sociais para apresentar os seus candidatos. A gente percebe que, inclusive, essa é uma característica que faz o bolsonarismo pensar que talvez a melhor identidade para uma candidatura seria alguém da própria família Bolsonaro.

No entanto, a gente tem esse processo de polarização muito grande e as pessoas estão cansadas disso. A gente percebe um país em que pautas importantes estão paradas no Congresso porque elas estão sendo analisadas sob o aspecto ideológico, sob o aspecto dessa polarização. Eu acho que os bolsonaristas ou essas pessoas que são da direita e da centro-direita, talvez, estejam almejando um candidato que dialogue mais com o centro, talvez um candidato de centro-direita.

Será que o bolsonarismo vai entregar esse recall político que eles têm para um outro candidato que seja somente aliado, mas que não faça parte do grupo? Porque há que se considerar. Há uma diferença entre ser parte do grupo político e ser um aliado. E nós percebemos, por exemplo, que o Tarcísio [de Freitas] é um aliado. O Tarcísio não é membro do grupo. Então, como a família Bolsonaro, que realmente consegue engajar e transferir votos, vai se posicionar? Essa é a incógnita.

E a esquerda? Tem algum nome forte que consiga tirar dessa polarização?

Tudo leva a crer que a gente deve ter o Lula como candidato novamente. O PT, ao longo dos anos, não conseguiu construir novos quadros. Diferente do bolsonarismo, que já tem figuras novas. Um exemplo é o Nikolas Ferreira, que é um deputado novo e que já aparece como alguém que tem um recall político importante, porque ele consegue dominar as redes sociais que hoje são referências pra população de informação. “ O PT, ao longo dos anos, não conseguiu construir quadros. Diferente do bolsonarismo que já tem figuras novas ”

O campo progressista está mais limitado, porque o único nome que ele tem hoje à disposição, com chances reais de vitória, ainda é o do presidente Lula, que é uma figura que vem demonstrando um certo esgotamento. São três mandatos de presidente. Não é uma figura nova, é um senhor hoje que está dentro do espaço político e que enfrentaria, numa possível vitória, mais quatro anos de mandato.

Então, não há alguém que consiga substituir o Lula?

Quando há simulações de pesquisa no âmbito nacional, quando se testa, por exemplo, o nome do Fernando Haddad (PT), há uma limitação. Ou seja, é um candidato que não consegue reverberar o público progressista com votos reais para enfrentar um candidato que seja da centro-direita ou que seja do bolsonarismo. Não se tem quadros imponentes hoje no campo progressista que não seja o Lula pra fazer um enfrentamento real. Fazer um enfrentamento real não significa também que a gente está consolidando a vitória para o campo progressista. Mas acho que, novamente, nós teremos uma eleição extremamente polarizada.

E hoje, como está a força do presidente Lula? Ele ainda tem chances?

Dentro das pesquisas nacionais, a gente vem percebendo o Lula que vinha regredindo na sua popularidade em todo o país. As pessoas já estavam questionando, inclusive, o nome do Lula como sendo esse potencial candidato para vir a derrotar a direita, o bolsonarismo. Mas com todo esse imbróglio que vem se desenhando no âmbito nacional e internacional, todo esse enfrentamento político hoje que o Brasil vem tendo com os Estados Unidos, aquele discurso que a direita tinha de nacionalista, ele vem aos poucos sendo colocado para o Lula. Ou seja, o Lula hoje se configura como nacionalista, quando ele não vem cedendo às imposições dos Estados Unidos. E eu acho que nesse momento a aprovação do Lula começa, ainda que de forma muito tímida, a subir.

Kethlyn Moraes/Rdnews

E qual candidato chega mais forte nas eleições presidenciais em 2026?

Estamos a um ano e meio para as eleições e é difícil ponderar qual é o campo que vai ser eleito nas próximas eleições. Mas a gente já pode trazer algumas considerações: Lula, com certeza, é o candidato que será representante do campo progressista.  Já no campo bolsonarista, se eles quiserem esse fortalecimento do clã ainda, vem algum dos filhos dele, que também fazem parte já da estrutura política, deputados federais, senadores. Ou, para minimizar a polarização, um nome de centro-direita, para que a população minimize também esse desgaste que está sendo bastante intenso, com essa dualidade, com essa polarização em tudo que está sendo discutido, tanto no campo político, como inclusive nas pautas de políticas públicas. “ Há uma diferença entre ser parte do grupo político e ser um aliado. E nós percebemos, por exemplo, que o Tarcísio [de Freitas] é um aliado. O Tarcísio não é membro do grupo. Então, como a família Bolsonaro, que realmente consegue engajar e transferir votos, vai se posicionar? Essa é a incógnita”

Tem algum candidato de centro-direita que você acredita que poderia ser abraçado? 

Quem nós temos hoje, que eu acho que vem sendo um nome muito comentado pelo meio político, é o nome do Tarcísio. Mas como eu ponderei anteriormente, o Tarcísio, do bolsonarismo ele é aliado, ele não é grupo. Então será que o bolsonarismo, que ainda é quem transfere votos reais aqui no Brasil, vai se engajar numa campanha do Tarcísio? Será que o bolsonarismo raiz vai escolher o Tarcísio para ser o seu candidato? 

E tem outra ponderação. O Tarcísio é um governador que vem com uma aprovação significativa no estado de São Paulo. Provavelmente, se ele disputa uma reeleição, ele consegue um pleito mais tranquilo. O Tarcísio vai [jogar] no seguro ou vai querer se arriscar e ficar quatro anos sem mandato?

Também tem outros nomes que vêm aparecendo, como o [Ronaldo] Caiado, Ratinho Júnior. Mas eu não sei se essas pessoas já entraram no conceito popular de serem possíveis candidatos. Eu ainda não vejo o Centrão pautando esses nomes como sendo possíveis candidatos. O do Tarcísio, não. O do Tarcísio já é reverberado no meio político, tanto pelo centro como pelo centro-direita. Pelo bolsonarismo, há um ponto de interrogação. O bolsonarismo quer eleger aliados ou quer eleger seu grupo? Então, acho que esse ponto fica em aberto ainda.

Agora vamos falar sobre o cenário estadual, já que a eleição do Governo de Mato Grosso está aberta. O governador Mauro Mendes (União Brasil) abre caminho para o vice dele, Otaviano Pivetta (Republicanos). Você acredita que pode haver uma transferência de votos do Mauro para o Pivetta como houve do Blairo Maggi para o Silval Barbosa?

O Mauro é um governador que tem uma capilaridade imponente no que se trata da questão da gestão dele, da aprovação dele. E essa aprovação, ela tem a ver principalmente com trabalhos que ele tem com as prefeituras no interior. Prcebe-se que o interior vem sendo bastante atendido, isso faz com que ele [Mauro] tenha um número de prefeitos muito grande também. Então, eu acho que por esse contexto, ou seja, uma boa avaliação como governador do Estado e com o Pivetta agora, que ele deixou esse perfil de somente vice para ser o vice-governador candidato, eu vejo que poderá sim ter essa transferência de votos.

É claro que a gente sabe que transferência de votos não é uma coisa tão simples assim. Nós temos figuras aqui no Brasil, eu diria que muito poucas, inclusive, que têm essa característica de transferência real de votos. Mas, por conta do Mauro Mendes ter uma boa aprovação, ter um grande número de prefeitos que hoje fazem parte da sua base, eu acho que pode ter esse alinhamento para que esses prefeitos venham a apoiar aquilo que poderia ser uma continuidade do projeto Mauro Mendes com o seu vice, que é o Pivetta.

Hoje se fala muito no nome do senador Carlos Fávaro, ministro do Lula, para ser o candidato da esquerda no estado. No entanto, recentemente saiu uma pesquisa dizendo que o Lula tem 69% de rejeição em Mato Grosso. Isso pode espelhar no Fávaro, caso ele seja candidato, ou há espaço para ele?

Um ponto interessante é a rejeição que o Lula tem no Estado de Mato Grosso. O nosso estado, ele é tradicionalmente conhecido pelo antipetismo. Eu não diria nem que é o anti-Lula, mas tem a característica do antipetismo. Inclusive, existem quadros do PT que, se viabilizassem as suas candidaturas por meio de outros partidos que não o PT, poderiam ter êxito. “ O PT, a esquerda vai abraçar o “Fávaro 2.0”? Porque a esquerda não comprou o “Fávaro 1.0”, que foi a sua primeira eleição para o Senado”

Quem é o Fávaro, senador do primeiro mandato? É um Fávaro que teve um voto muito mais próximo do agronegócio, que tem uma perspectiva mais conservadora. Agora, nós temos um “Fávaro 2.0, ou seja, o Fávaro que é ministro do Governo Lula, de um ministério imponente, que é o Ministério da Agricultura, que tem um orçamento pujante. E acho que ele conseguiu, pelo ministério, estabelecer relações também com o Estado de Mato Grosso. Agora, quem chancelou ele no primeiro mandato foi um número significativo de pessoas que não compartilhavam necessariamente das perspectivas ideológicas, das características políticas que a esquerda propõe em nome do presidente Lula.

O que resta saber é se realmente a esquerda vai comprar esse projeto do Fávaro. A gente já percebeu, inclusive, em eleições municipais, que o PT lançou candidatos em que as pessoas tinham aquela perspectiva de que o PT tem pelo menos 30% em Mato Grosso, mas que seus candidatos à Prefeitura não atingiram nem dois dígitos, ou seja, o PT não comprou essas candidaturas. 

E aí vem a grande questão: o PT, a esquerda vai abraçar o “Fávaro 2.0”? Porque a esquerda não comprou o “Fávaro 1.0”, que foi a sua primeira eleição para o Senado. E esse grupo que apoiou ele na primeira eleição, colocando ele nessa versão mais progressista, vota nele ainda? Então, acho que tem essas variáveis que são aí interessantes de serem apontadas, mas é um nome que eu vejo que tem potencial de crescimento.

Link da Matéria – via RD News

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